Lamentavelmente, faz dezenove anos que não posso desfrutar da companhia de meu pai no dia dos pais . Passados quase vinte anos da sua morte, ele continua bem vivo em minha memória.
Como esquecer a maneira como nos acordava aos domingos para irmos para a EBD? Preparava um gostoso café da manhã, ligava o aparelho de som e vinha na porta do quarto de tempos em tempos e chamava: “Varões valorosos, está na hora de irmos para a escola dominical!” Meus irmãos e eu ficávamos meio bravos, afinal acordávamos cedo a semana inteira para ir para a escola, ou para o trabalho; será que não podíamos dormir um pouquinho? Será que não podíamos ter uma folga pelo menos um domingo?
Outras coisas me deixavam meio confuso: Por que meu pai emprestava dinheiro para pessoas que não iriam pagar? Por que pedia perdão quando, na verdade, era ofendido? Por que não usava a sua “autoridade pastoral” instantânea e energicamente? Por que honrava pessoas que, aos nossos olhos, não mereciam? Por que ficava calado quando suas ovelhas esqueciam de convidá-lo para festas de casamento e aniversários de quinze anos? Por que não disse que era pastor quando pediram para retirar o seu fusca 1978 do estacionamento de uma igreja e disseram: “Este estacionamento é só para pastores”?
Algumas de suas frases não me saem da cabeça:
“Não quero receber para fazer a obra de Deus. Se precisar eu até pago”.
Quando assumiu a AD Belém – Setor 36 – Congregação de Jd. Penha fez três promessas ao ministério e a igreja que assumia: “Trabalho, Trabalho e Trabalho”.
Uma das coisas mais marcantes de que me lembro é um diálogo entre meu pai e minha mãe, alguns meses antes de meu pai sofrer um infarto:
Mãe: "Sílvio, você não tem ambição de ter uma casa, um carro, dinheiro, bens materiais?"
Pai: "Não. O meu tesouro não é deste mundo."
Meu tio, Pr. Ivaldo Pereira da Cruz, definiu bem: “Sílvio andou tão perto de Deus que Deus resolveu levá-lo para junto de si”.
Talvez alguém julgue que eu não tenha apoiado meu pai e que esteja sentindo remorso. Durante o ministério do meu pai sempre fui seu braço direito. O que me pesa é ter demorado tanto para entendê-lo, e não ter aproveitado mais a sua companhia.
Alguns irmãos que o conheceram procuram, por bondade, estabelecer comparações entre meu pai e eu. Não tem jeito! Eu não chego nem aos seus pés!
Hoje me lembrei das últimas madrugadas do meu pai... Sentado numa cadeira, tossindo a noite inteira (por causa do infarto), e sem poder dormir. Lembro-me que essa cena me angustiou muito. Penso na dor do meu irmão mais novo que viu meu pai morrer na sua frente.
Penso que estamos firmes por causa de outras madrugadas, por anos a fio, em que o ouvíamos orar por nós!
Nos últimos anos tenho passado por alguns momentos difíceis. Como ser humano que sou, penso em desistir; mas acabo continuando quando me lembro das manhãs de domingo: “Varões Valorosos...”
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